Capítulo Bônus

Leugim nasceu numa casa de pedra, entre o telhado de palha e o riacho que não tinha pressa. Os vizinhos lembram-no como um menino de mãos grosseiras e silêncio atento — alguém que observava mais do que falava, que carregava o ar de quem saberia suportar demasiado.

Não havia nada de nobre nas origens de Leugim. Filho de um pastor e de uma tecedeira, ele aprendeu a ler o céu antes das letras e a reconhecer, pela maneira de cantar dos gafanhotos, quando a chuva chegaria. Mas havia, já cedo, no seu peito, uma inquietação que as rotinas não saciavam. Enquanto os outros meninos corriam atrás de corvos, Leugim caminhava além da cerca, até onde a terra se estreitava e as lendas começavam.

A forja que mudaria tudo surgiu numa noite diferente. Não foi uma noite comum: uma estrela caiu além do Litoral Luar, cortando o céu com uma cauda ardente. Toda a aldeia a viu — e, como em toda boa história, disse-se que onde uma estrela cai, a terra pede um preço e concede um presente.

Leugim, impulsionado por algo que era sinal e fome ao mesmo tempo, partiu sozinho até a cratera fumegante. Encontrou ali um fragmento incandescente, menor que um punho, mas tão denso que fazia doer a palma da mão ao tocá-lo. Era negra por fora e azul por dentro, como se tivesse engolido a noite e guardado o amanhecer.

O Despertar do Destino

O que Leugim não sabia era que aquele fragmento carregava em si a essência de mundos distantes, memórias de batalhas travadas entre as estrelas e o eco de vozes que sussurravam segredos antigos. Quando seus dedos se fecharam ao redor da pedra, algo despertou dentro dele — uma força que dormia em seu sangue desde gerações esquecidas.

Nos dias que se seguiram, mudanças sutis começaram a se manifestar. Sua força cresceu além do natural, seus sentidos se aguçaram como os de uma criatura selvagem, e seus olhos passaram a enxergar coisas que outros não viam: sombras que se moviam contra a luz, sussurros no vento que carregavam avisos, e uma luz dourada que dançava ao redor de certas pessoas, como se marcasse aqueles destinados a grandes feitos.

Foi então que os primeiros sinais da escuridão começaram a se manifestar em Avelion. Criaturas estranhas foram avistadas nas bordas da floresta, animais domésticos desapareciam sem deixar rastros, e uma névoa espessa começou a se formar nas noites de lua nova, trazendo consigo pesadelos que pareciam reais demais para serem apenas sonhos.

O Chamado do Herói

Leugim compreendeu que o fragmento estelar não havia chegado até ele por acaso. Era um chamado, um convite para se tornar algo maior do que jamais imaginara. Mas com grande poder vem grande responsabilidade, e ele logo descobriria que o destino de Avelion — e talvez de mundos além — dependeria das escolhas que faria nos dias sombrios que se aproximavam.

A jornada que o transformaria no maior guerreiro que Avelion já conheceu estava apenas começando. E embora ele ainda não soubesse, suas ações ecoariam através dos tempos, influenciando eventos que só se revelariam décadas mais tarde, quando dois jovens irmãos descobririam um buraco misterioso em uma árvore antiga...